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três poemas

por rayi kena


I feel outdated. todos esses discursos que vejo saindo de tudo que é canto me incluindo ou não me fazem sentir à espera da guerra sendo que somos a geração o século a vida que sobreviveu. matar homens por interesses escusos mas / é assim que eu me sinto / como se meu coração fosse deixar de existir a qualquer momento e minha cabeça fosse do tamanho de um parque de diversões. / estamos em qualquer ano em que os poemas do Drummond foram escritos / eu deveria me alhear de tudo e eu sei que consigo: é como se a metáfora não fosse minha.


***



mantenho a cortina fechada
apesar da vista verde

a janela aberta
retém tanto
quanto tudo contém.

o bisturi cortando a parede
a sua cabeça saindo por entre tijolos.

trincheiras tomam 
o osso esmiuçado à sorte 
não do tempo,
não de mim,
mas do fracasso alcançado
sem noites perdidas de sono.



Rio sangrento


deve ter sido fria
a noite

                 a água
                 mostrava os barcos ao contrário

                 parado, o Rio observava tudo
                 como um monstro
que era a própria água, o próprio rio
de onde saíam olhos brancos
que piscavam
mas sem assustar os pescadores.



rayi kena, 23, é mestre em literatura comparada pela UFRJ, vem de Goiânia para o Rio de Janeiro no final da década de 2010. já publicou duas pequenas zines/plaquetes – "deus ex machina" (2016, com Raphael Vaz); "Gynocaden" (2019) – e, hoje, continua a estudar poesia contemporânea. gosta de escrever, gosta do mês de junho e gosta do cerrado no mês de junho.